Entenda como o turismo acelerou redução de duna em Jericoacoara que já teve 60 metros de altura
O desaparecimento da Duna do Pôr do Sol, um dos principais atrativos turísticos da Praia de Jericoacoara, no litoral do Ceará, está relacionado com a ação humana, déficit de areia e processos naturais, segundo o Coordenador Científico do Planejamento Costeiro e Marinho do Ceará, Eduardo Lacerda Barros.
A formação, que já chegou a 60 metros de altura na década de 1980, atualmente está reduzida a um banco de areia na faixa da praia cearense. O grande número de turistas que vão até o local para apreciar o pôr do sol acelerou o processo que resultou na redução da duna.
“Esse processo é natural. Obviamente que aí você tem questões antrópicas [ação humana], que podem acelerar, como o pisoteio, você pisando na areia, propicia uma remobilização de sedimentos na superfície e aí mais facilmente quando esse material é levantado o vento consegue transportar, causando uma diminuição de areia”, disse Eduardo Lacerda.
Conforme o pesquisador, a Duna do Pôr do Sol faz parte de um grande sistema de dunas móveis, que tem como principais fatores para a formação a presença do vento e a disponibilidade de areia, porém esse processo está sendo prejudicado pelo déficit de areia no Estado.
“Os corredores eólicos, que são fundamentais para transporta essa areia em direção as dunas, não têm mais areia e a consequência disso é a perda de volume da Duna do Pôr do Sol. […] Daqui algumas décadas, novas dunas que estão na retaguarda do que hoje é a Duna do Pôr do Sol vão se fazer presentes nesse trecho. “, falou Eduardo.
Para o pesquisador, é necessário fazer um estudo na região para trabalhar nas melhores medidas para proteção das dunas.
“Obviamente a gente precisa fazer um controle, uma gestão para uma maior preservação desses ambientes, para que a gente possa garantir que essas dunas possam continuar, mas a gente também depende de questões naturais, como a disponibilidade de areia, faz tudo parte desse processo de estudo, de monitoramento e de preservação”.
Impacto humano
Em 2019 o g1 publicou uma reportagem sobre a diminuição da duna. Na época, pesquisas da Universidade Federal do Ceará (UFC) apontavam que a migração da Duna do Pôr do Sol foi incrementada a partir de 2001, “possivelmente estando relacionada aos impactos do homem, que interage com a dinâmica dos ventos e o aumento da temperatura global”, explica o técnico da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), e doutorando na Universidade Estadual do Ceará (Uece), Gustavo Gurgel.
Ele esclarece ainda que ao longo dos últimos anos, os corredores de ação eólica, os quais são responsáveis por alimentar as dunas, “perderam suas funções”.
O pesquisador reitera que os “corredores não conseguem mais levar a quantidade de areia necessária para garantir a manutenção da faixa. Desta forma, não está havendo alimentação da duna”.
(g1)