O que faz a cidade de Guaraciaba do Norte ser a ‘capital cearense do tomate’?
A cidade mais alta do Ceará é um dos principais polos agrícolas do Estado. Está em Guaraciaba do Norte, em cima da Serra da Ibiapaba, os pomares que fazem com que o município seja a capital cearense do tomate, e os motivos que levam a essa posição incluem a própria geografia.
O clima de Guaraciaba do Norte é bem mais ameno do que outras áreas do Estado, como explica Francisco Antônio ‘Novato’, produtor rural no município há 39 anos. O carro-chefe da produção é o tomate, mas também há o plantio e a colheita de outras frutas, legumes e verduras, como pimentão, abacate, maracujá e repolho.
Os produtores aqui são perseverantes, quase todo mundo veio de baixo. Na época do algodão, fazia uma safra no sertão e comprava uma casa na serra. Agora, virou o contrário. Aqui tem terras boas e temos conhecimento. A maioria dos produtores é altamente afiada nisso, porque são nativos nisso”.
A produção dele é familiar e estruturada. Ao lado do irmão, o produtor toca a empresa agrícola FA Justino. O filho, Gerson, é engenheiro agrônomo, estudou em Fortaleza e retornou às propriedades da família.
“Hoje tem a facilidade da tecnologia, ficou mais fácil de produzir. Passamos mais segurança ao consumidor e ao produtor que está trabalhando com a gente. Sofríamos muito com veneno, pragas, mas hoje trabalhamos dentro de uma estufa protegida”, explica Antônio.
Serra da Ibiapaba é o maior polo agrícola do estado, diz secretário
Silvio Carlos Ribeiro, secretário-executivo do agronegócio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Ceará, dá a dimensão do tamanho da produção agrícola nas cidades da Serra da Ibiapaba.
O destaque de Guaraciaba do Norte e nas cidades vizinhas no cultivo de frutas, legumes e verduras (FLV) e nas flores foi um dos temas discutidos no Coalizão Agro Ibiapaba, evento realizado na cidade e que reuniu produtores e especialistas no agronegócio cearense.
De acordo com Sílvio Carlos, os nove municípios que estão na Serra da Ibiapaba “tem o maior valor bruto da produção agrícola do Estado”.
Além das condições climáticas propícias para o cultivo de FLV e flores de alto valor agregado, o titular do agronegócio da SDE pondera que atecnologia empregada maximiza a produção e, consequentemente, o preço dos produtos.
“Produzimos hortaliças, flores e agricultura moderna com alto valor agregado, produtividade, usando irrigação de alta tecnologia, principalmente utilizando cultivo protegido nas estufas. Essa agricultura gera muita riqueza e traz esse cenário para o Estado. Produz-se mais aqui do que em qualquer região do Ceará”, observa Sílvio Carlos.
O secretário do agronegócio da SDE ainda complementa, afirmando que o tomate tem o maior valor bruto de produção dentre os cultivos agrícolas do Ceará.

Antônio Novato explica as mudanças feitas na plantação dele de tomates ao longo dos últimos quase 40 anos.
Isso inclui uma redução drástica do uso de agrotóxicos – e de pragas -, na adubação e irrigação das plantas e no modo como as mudas do fruto são transplantadas para o solo, além do plantio dentro de estufas com controle de entrada e saída.
“Antes a gente usava um mangueirão para aguar as plantas. Agora é uma irrigação localizada. Cortava as raízes da planta para adubar, hoje não precisa, é solúvel, coloca-se o adubo na água”, reforça.
“Paixão de produtor” faz negócio prosperar em Guaraciaba do Norte
A volta de Gerson para a produção de FLV do pai fez com que o produtor rural catapultasse a sua produção. Em média, a produção de tomates de Antônio Novato subiu 25% nos últimos dois anos, mas vários tomateiros aumentaram em até 50% a quantidade dos frutos.
Hoje com 55 anos, Antônio Novato tinha 16 quando começou a plantar tomates. Atualmente, a propriedade dele conta com 52 meeiros rurais, que dividem os lucros e as terras com o produtor.

Os tomates representam 50% da produção dele, com 80 mil caixas de 33 quilogramas (kg) ao ano. Já os pimentões representam 25 mil caixas anuais. Segundo Antônio Novato, os pimentões, chuchus, pepinos, maracujás, abacates e laranjas da propriedade dele compõem a outra metade do faturamento.
Atinge umas 40 mil caixas ao ano essas outras coisas, mas quando a gente começou, era bem mais difícil as coisas. Nosso transporte era um jumento para a gente trabalhar, depois uma bicicleta e o negócio foi melhorando. Hoje não são só os dois irmãos que trabalham, são quatro, e o engenheiro agrônomo é meu filho. Aqui tem a paixão de produtor”.
Tomates ficam no mercado interno
A colheita dos tomates é feita a cada dois dias, e após um tomateiro dar frutos, ele é retirado para dar lugar a outra muda, que leva cerca de quatro anos para frutificar tomates.
Antônio Novato abastece as Centrais de Abastecimento (Ceasas) nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza e Teresina, bem como as redes supermercadistas R Carvalho e Vanguarda, com atuação no Ceará, Maranhão e Piauí.
Na visão de Antônio Novato, a grande dificuldade está no comércio. Como o tomate é um dos produtos que tem maior variação de preço – e que acaba causando impactos na inflação -, nem sempre a produção consegue ser escoada adequadamente.

“Com preço alto, todo mundo vira produtor. O comerciante vira produtor, o dono de posto vira produtor. É o que mais oscila, mas também é o mais vendido. Se o supermercado botar o tomate em promoção, é o atrativo dos consumidores”, classifica.
“O que estamos encontrando mais dificuldade é no comércio. Todo mundo acha que é fácil. Vou dar um exemplo: tenho aqui 10 mil caixas de tomate e quero vender. Não é assim. Tem que brigar por preço, em supermercado, vai por cotação”, completa Antônio Novato.
Qual o tamanho da produção de tomates em Guaraciaba do Norte?
Guaraciaba do Norte, conforme os últimos dados divulgados na Produção Agrícola Municipal (PAM), levantamento elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era a 12ª maior produtora de tomates do Brasil – e a maior do Ceará.
Foram 61,5 mil toneladas colhidas no ano passado na cidade. O Ceará, que se manteve na vice-liderança da produção de tomate no Nordeste, atrás apenas da Bahia, teve colheita de 197 mil toneladas.
Já a produção de tomate em Guaraciaba do Norte em 2024 rendeu R$ 154,1 milhões, décimo maior rendimento nacional e segundo maior do Nordeste. Mucugê (BA) tem o maior rendimento da região, com R$ 188,7 milhões.

No último dado do Produto Interno Bruto (PIB) do município, disponibilizado pelo IBGE e referente a 2021, a produção de tomates no município corresponde a 23% de tudo o que é produzido em Guaraciaba do Norte.
Produção de tomate no Ceará em 2024 rendeu R$ 551,8 milhões, o sexto maior rendimento nacional. A Bahia é líder do Nordeste.
(Diário do Nordeste)

