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Nova facção carioca se expande em municípios da região da Serra da Ibiapaba

Ao longo deste ano, o Terceiro Comando Puro (TCP) passou a atuar no Vale do Jaguaribe e na Serra da Ibiapaba. Morte de jovem de 16 anos teria sido praticada por integrante da organização criminosa.

O assassinato da adolescente Lizandra Bandeira Saraiva, de 16 anos — cujo corpo foi encontrado no último dia 30 de maio na Zona Rural de São Benedito, na Serra da Ibiapaba —, jogou luz ao avanço no Ceará da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP), originária do Rio de Janeiro.

Conforme mostrado pelo Jornal O POVO, os próprios suspeitos capturados afirmaram que o assassinato de Lizandra foi motivado pela rivalidade entre o TCP e o Comando Vermelho (CV), organização criminosa também criada no RJ, mas que atua há mais tempo no Estado.

O namorado de Lizandra seria integrante do CV, enquanto o suspeito de ter praticado a execução, José Lucas Ferreira dos Santos, de 18 anos, confessou integrar o TCP. Em depoimento à Polícia Civil, uma das adolescentes apreendidas por suspeita de participação na morte de Lizandra afirmou que “na escola onde estuda, a maioria dos alunos é da facção TCP”.

Pelo crime, José Lucas foi denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPCE) na última quarta-feira, 5, ao lado de seu “padrinho de batismo” no TCP, identificado como Francisco Gleison Barbosa de Sousa. Este teria emprestado a arma usada na execução de Lizandra. Francisco Gleison é procurado pelas forças de segurança.

Após uma tentativa de se estabelecer em Fortaleza em 2022, o TCP passou a expandir, neste ano, sua presença em municípios do Vale do Jaguaribe e da Serra da Ibiapaba, a exemplo de São Benedito.

Boa parte dos faccionados que decidiram integrar o TCP neste ano seria integrante da facção cearense Guardiões do Estado (GDE), que tinha uma aliança com a organização carioca.

Em 2022, três homens apontados como liderança da GDE deixaram esta facção e passaram a integrar o TCP, motivando, conforme investigações da Polícia Civil, um conflito com os ex-aliados que teria deixado, ao menos, 10 mortos em bairros como Jangurussu, Conjunto Palmeiras e Aerolândia, em Fortaleza.

A mudança foi vista por integrantes da GDE como uma traição. Na Aerolândia, ocorreu o mais grave episódio desse confronto: uma chacina deixou quatro mortos em 18 de fevereiro de 2022.

As vítimas da chacina seriam pessoas ligadas às lideranças que decidiram integrar o TCP. Já entre os mortes nos demais bairros também havia pessoas que teriam decidido continuar com a GDE.

A próxima movimentação do TCP no Ceará só voltaria a ocorrer neste ano. Em janeiro, publicações nas redes sociais davam conta de que faccionados, em alguns municípios do interior do Estado, que até então estavam na GDE, teriam aderido à organização criminosa carioca.

Queimas de fogo e pichações foram feitas em alusão ao fato em municípios como Morada Nova e São João do Jaguaribe, ambos localizados no Vale do Jaguaribe. O então secretário Samuel Elânio chegou a afirmar que órgãos de inteligência analisavam a expansão da facção.

Como O POVO mostrou em março, o grupo chefiado por Gilberto de Oliveira Cazuza, o Gilberto Mingau, um dos homens mais procurados do Estado, rompeu com a GDE e aderiu ao TCP.

Conforme a Polícia Civil, a ruptura estaria por trás da maioria dos homicídios registrados em Morada Nova e em Ibicuitinga (município já do Sertão Central, mas vizinho a Morada Nova) em 2023.

O POVO perguntou à Segurança Pública e Defesa Social do Estado (SSPDS) quantos suspeitos de integrar o TCP foram presos neste ano no Estado. 

Entretanto, em nota, a SSPDS afirmou apenas que a Polícia Civil “apura todas as informações de ações criminosas que chegam ao conhecimento das autoridades policiais” e que a corporação conta com o auxílio das Inteligências das Forças de Segurança do Estado.

Além do Ceará, o TCP teria se expandido neste ano para estados como Minas Gerais e Espírito Santo, conforme matérias de jornais desses estados.

Em maio, a Polícia Federal deflagrou uma operação para cumprimento de 105 mandados de prisão contra suspeitos de serem membros do TCP no Rio de Janeiro, no Espírito Santo e em Minas Gerais.

Nessa segunda-feira, 10, o jornal baiano Correio, parceiro do O POVO na Rede Nordeste, informou que o TCP já atua em Salvador (BA) desde abril. Na capital soteropolitana, o TCP teria se aliou a uma facção local para rivalizar com o CV.

(O Povo)